quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SORRISO DE CACHORRO É O RABO

Sidney poderia ser tranquilamente o mais belo e mais feliz de todos daquela rua, quiçá daquele bairro. Era certo ser o mais cobiçado daquela casa, e não era pra menos pois dividia companhia apenas com Dennis, homem de quase trinta anos. Talvez por isso Sidney fosse o eterno companheiro do homem que aparentemente vivia em harmonia com a solidão. Dennis via em Sidney o amigo que sempre podia contar para estar perto, ao passo que Sidney via no rapaz a forma mais fácil e doce de se viver.
            Sidney despertava em tudo inveja dos que passavam noite adentro na escuridão, dos que madrugavam nas calçadas ou mesmo se aleitavam dentro de suas pequenas casas. Despertava inveja em tudo, a começar pelo seu nome. Isso mesmo seu nome! Nome dos mais exóticos já vistos, parecia único no meio de tantos Rex, Snoop, Lassy, Beethoven, e outros comuns. Inveja era tanta que todos os outros daquele bairro pareciam não escutar os gritantes chamados dos seus donos. Ou não escutavam ou certamente se confundiam com nomes tão comuns que eram disparados repetitivamente para toda a rua.
            O pequeno vira lata nunca havia recebido nenhum tipo de adestramento, foi encontrado por Dennis no meio da rua há dois anos. Estava sujo de tal forma que até a rua o rejeitaria. Agora era tratado com mil e um requintes: banhos e tosas, rações, brincadeiras. Este ato tornou o pequeno cachorro o mais fiel e obediente de todos os cães daquele bairro, tanto que Dennis nunca pensou ao menos em um serviço de treinamento pet.
            A relação do pequeno cachorro com seu dono era a das mais lindas que já cheguei a ver. Dennis deixava Sidney solto pela casa, e vez ou outra abria as portas para o cachorro curtir a rua quando bem entendesse. Mas não! Sidney saia apenas com o seu dono: não que fosse um cão dependente, grudento ou obcecado (não faz o tipo dos cães serem assim), porém para Sidney era o momento que eles podiam sair juntos. Era quando o pequeno cachorro podia observar o caminhar de Dennis, percebia se andava rápido ou devagar, percebia o cansaço ou a energia que esbanjava nas carreiras, percebia cada calo que a caminhada da vida fazia com seu dono. Dennis evitava coleiras em Sidney, pois não queria compartilhar o cansaço e os calos que a vida lhe deixava todos os dias, preferia que aquele pequeno peludo transitasse livremente sem que a pressa ou a fadiga lhe puxasse pela corrente. Para Sidney não bastava só o vento fazer-lhe balançar o rabo, era necessário a felicidade, e isso ele tinha de monte.
            Nessa caminhada os outros cachorros estranhamente acabavam por tentar segui-los já que nunca participaram de um ato como esse, estavam à mercê da rua ou a deriva devido à falta de tempo dos seus donos. Já a vizinhança toda, olhava para os dois caminhantes com certo desdém. Os dois caminhavam, pareciam parar no tempo, enquanto os que apenas observavam aquela cena se agoniavam e se embolavam com o carretel de tempo que desatavam todos os dias.
            Até o início da reforma da casa pouco se sabia de Dennis. Bastou apenas todo o material de construção chegar que as portas de sua vida pareceram se escancarar para todo mundo. Antes de tudo isso, na boca de muitos era o solteirão e sozinho, que decidiu sair da casa dos pais logo cedo e tentar a dura vida sozinho. Pensava-se que era homem de apenas uma companhia: o tão paparicado cachorro. Parece que de nada certo sabiam as más línguas. Dennis, rapaz bem reservado, namorava uma menina há um ano e agora planejavam se casar, por isso decidiram reformar a casa para morarem juntos. Outro rumo tomava sua vida e a felicidade era muro alto para o aconchego do seu lar.
            Agora toda a vida de Dennis resumia-se na reforma de sua casa. Imediatamente os mestres de obras e serventes foram chamados e Sidney começava a dividir a casa com milhares de tijolos, sacas de cimentos, de cal e ferramentas. Para Dennis a casa crescia e para Sidney aos poucos a casa se espremia. Antes fossem somente os espaços! A reforma da casa começou a mexer com Dennis e agora já tinha pouco tempo para dedicar ao pequeno Sidney que aos poucos perdia espaço para os tijolos.
            Aos poucos já se era possível ver aquele belo vira latas no meio das ruas sem a presença do amigo, usava pela primeira vez da sensação de ser único e ao mesmo tempo ser igual aos outros cães. Seria essa o que os outros chamavam de liberdade? Sendo ou não é certo que Sidney a usou e abusou rapidamente e, em menos de três dias fora de casa já planejava sua volta criando as mais belas expectativas com relação ao seu dono Dennis, pensava que por ser o pródigo daquela casa poderia ser recebido tal qual como a parábola o faria: com festas e banquetes. E assim retornou a sua casa com rabos esvoaçantes de felicidades. Acabava por se enganar, pois as obras continuavam e Dennis ansioso pelo casamento quase não reparou o velho amigo balançando no rabo seu sorriso. O rapaz com tom nada feliz, de palavras disse apenas sete:
            -Sidney saia do caminho de quem trabalha!
            Após isso mudo ficou.
            Coube a Sidney agora a mais profunda tristeza (seu rabo murchou). Deitou no canto mais apertado e escondido da casa, canto este habitado apenas pela imensa fileira de tijolos. Poderia ficar ali pra sempre, porém a construção de um só golpe acabou com todo o seu sorriso cão. Doía-se o peito e doía-se o rabo, chegava a sangrar de tristeza. 
            Decidiu de imediato sair daquela casa, sem mostrar nenhum grunhido ou gemido, nem ao menos se fez notar por Dennis.
            Dessa vez partiria pra sempre e não esboçaria nenhum sentimento de angustia por Dennis, pois de certa forma conseguia compreender tudo e não queria vê-lo culpado no meio de toda essa situação.
            Dennis sem pouco entender da situação continuou a viver em sua nova casa com Cláudia, agora sua esposa, tinha todos os motivos para rir plenamente, mas nem sempre o fez. A saudade de Sidney batia por vezes e de tão grande ficou esse sentimento que decidiu procurá-lo.
            Tantos dias se passaram a procura que acabou encontrando seu melhor companheiro de tempos outrora: Agora estava sujo, magro, ferido, isolado e sem o rabo. As lágrimas corriam e faziam de Dennis barco em tormenta. Abraçava Sidney como se apertasse o mundo e como sempre foi de poucas palavras pedia:
            -Por favor, me desculpa?
            Os dois encararam-se por longos segundos e Dennis percebia nos olhos de Sidney profunda melancolia, mas quase gritando a resposta:
            -Te perdoo, me abraça.
            Os dois voltaram para casa, porém para Sidney tudo era diferente: a casa, sua nova companhia (Claudia), e ele mesmo. Talvez fosse até feliz, mas jamais haveria de sorrir, pois a construção destruiu seu rabo, estava agora sem o rabo, sem seu sorriso.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Observei hoje uma fresta de sol sobre meu caderno
Ela se sentou sobre ele, leu alguns versos e se foi
Já era hora dela anoitecer.

Adriano Morais

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Presa no casulo, torcendo por asas
Presa no casulo, tecendo suas asas
a mariposa voa, MAR E POUSA.

Adriano Morais


VERÃO vocês que ou estou na PRIMAVERA OU TO NO INVERNO
Adriano Morais.
Vida boa é da brasa
Vive de afagos do fogo e da brisa.

Adriano Morais.
enquanto o sol e o mar se beijam
o mar e a lua se desejam

domingo, 11 de julho de 2010

E lá estava ele mastigando sinos, devorando ferozmente ponteiros e, para a digestão, experimentou uma taça de silêncio.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Orelhinhas

Orelhinhas I

Ahhh que engraçado, ultimamente todos os meus livros e cadernos estão ficando com “orelhinhas”
Na certa estão ficando aflitos e curiosos para ouvirem de minha boca os próximos versos

Adriano Morais

Como não apreceu nenhum verso meu caderno sumiuuu.
Procura-se caderno de poesias
Recompensa - um verso