sábado, 15 de maio de 2010

A garganta das grandes cidades


De repente me vejo arrodeado de grandes e famintas estruturas de concreto e aço, essas são as grandes e conturbadas cidades, que trazem em suas bocas os enormes prédios onde parecem arranhar céus, ventos e paisagens. Nas suas presas, encontro restos de papéis que diziam passar alguma mensagem quando na realidade mastigavam as nossas mentes, encontro também restos de sacos plásticos que um dia já serviram de lixo para guardarmos os nossos lixos que dizíamos ser luxo. Toda noite esta repugnante boca com hálito de monóxido de carbono cospe dos becos aquilo que mais lhe faz mal, a pobreza que esta pobre mãe esqueceu de criar, cospe crianças que conseqüentemente cospem todo o podre leite que sua mãe lhe deu, quando não, vão para os sinais e pedem um pouco de lixo que um jovem senhor de terno e gravata esconde e coleciona de milhões na sua cueca ou na sua carteira.
O corpo desta cidade é tão podre quanto sua boca, é áspero, é quente, é feito de pixe e pedras (as mesmas que cobrem o coração das grandes populações); é sujo e cheio de detritos que ela esqueceu de devorar, por este corpo passeiam diversos tipos de animais, deles o mais freqüente é o rato, ratos famintos por estes detritos, ratos bem vestidos que roubam para se vestir de ganância, ratos que se amedrontam e simplesmente esperam de outros ratos um milagre, e se vendem por alguns trocados, ou se trocam sem ao menos pensar em se vender e ratos que caem de uma forma ou de outra na grande ratoeira que foi armada para pegar-lhes. Também me vejo como um rato nesta sociedade, não como estes citados, porém como aquele que não descansa de importunar aqueles que um dia se cansarão de me importunar.
Adriano Morais
23.03.08

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